<$BlogRSDUrl$>

1.2.06

Para meu amigo Evaldão 

São José dos Campos, 1 de fevereiro de 2006, 11h55 (horário de verão). Ao contrário do que a profissão possa sugerir, sempre tive uma certa dificuldade para dar início aos meus textos. Claro que isso não acontece no momento de escrever um texto padrão de reportagem. Aquele tipo que, como ensinam aos jornalistas na universidade, tem que responder, em um único parágrafo, as famosas perguntinhas: o que, quando, onde, como e porque. Mas este está sendo um dos mais difíceis. Talvez seja porque ele vá tratar de um grande amigo. Meu grande amigo Evaldo Novelini. O Evaldão, como eu costumo chamá-lo, está neste exato momento passando por um delicada cirurgia no coração. Algo que chega a ser irônico, porque quem o conhece não consegue acreditar que um coração como o dele possa ter algum "defeito". Achava que se algum dia o Evaldão fosse passar por alguma cirurgia seria, talvez, para fazer uma lipoaspiração e dar um jeito naquela pança branca dele. Mas o coração, realmente, não dá pra acreditar.
Eu conheço o Evaldo há pouco tempo. Desde 2001, quando ele, demitido do Diário de Suzano, foi trabalhar como repórter de Esportes no jornal da cidade vizinha, O Diário de Mogi, onde eu já estava há alguns meses, só que na editoria de Cidades. Dividíamos a mesma bancada e até o mesmo ramal de telefone, o 9038. Só não dividíamos o mesmo computador porque ainda havia um resquício de bom senso entre os donos do jornal, que naquela época passava por um processo pré-falimentar. A amizade não demorou para acontecer e, com o tempo, se firmou. E os bons papos, discussões sobre política e futebol, e as brincadeiras, serviam para amenizar os descontentamentos diários inerentes à profissão, ainda mais num ambiente como aquele em que vivíamos. Ao mesmo tempo, crescia minha admiração pelo repórter competente, dono de textos brilhantes, que acabou por conquistar todo o jornal e servindo de inspiração para todos - especialmente para mim.
Apesar de palmeirense, o Evaldão é um homem honesto, de um caráter ímpar. Tem um jeito meio atrapalhado, brincalhão, quase bonachão. Mas um olhar clínico e um senso de justiça difíceis de achar. É a companhia perfeita para uma cerveja. Um amigo leal. E foi por tudo isso que eu o escolhi padrinho do meu filho Renato. A internet não teria espaço suficiente para abrigar um texto com todas as histórias que tenho pra contar desse cara.
Companhia de tantas alegrias, nas últimas semanas acompanhei momentos difíceis na vida do Evaldão. As semanas que antecederam a cirurgia foram especialmente difíceis. Amigo, não foi fácil ver você passando por todos aqueles momentos de medo e incertezas. Eu realmente não sabia o que te dizer ou o que fazer para aliviar o teu sofrimento. Porque nunca acreditei que iria te ver passar por uma dificuldade dessas. Não combina com a sua história. São 13h04, e eu estou aqui em São José esperando por notícias suas. Estou aflito e torcendo para que tenha dado tudo certo. Tenho certeza que vai dar. E como eu te disse na véspera da sua internação, daqui a alguns dias você vai estar recuperado e tudo vai voltar ao normal. Toda essa atmosfera mórbida vai dar lugar à nossa velha alegria e, como de costume, tudo vai ser motivo para boas risadas. Só não vale me chamar de viado depois de ler este texto.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?