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11.10.04

Meu querido irmão mais velho 

Meu irmão mais velho, o mais "certinho" dos três, foi o único lá de casa que tomou bomba na escola. Foi no primeiro ano do colegial. Nunca vou esquecer daquele dia, muito menos ele. Acho que o coitado sente até hoje na pele as cintadas levadas do meu pai. Ao me lembrar desse caso coloquei a memória pra funcionar e cheguei a um fato curioso. Apesar de sempre ter sido o mais recatado, caseiro, tímido, misantropo e "certinho" entre os três, o meu irmão mais velho, hoje com quase 29 anos, foi o que mais se fodeu com o meu pai. A esta altura já deu pra perceber que meu pai é um cara um pouquinho, digamos, rígido. Todos nós apanhamos muito quando moleques. Mas o meu irmão mais velho foi não só o que mais apanhou, mas também aquele que tomou as maiores das surras. Uma vez, não me recordo bem o que o mané foi fazer, só sei que ele acabou estourando um cano dentro do banheiro da casa da minha avó paterna. Ao invés de pedir ajuda pra alguém, ele simplesmente pegou uma espátula ou seu lá o que e arrancou todo o reboque da parede. Acho que ele quis tentar consertar a cagada, mas acabou fazendo uma grandiosa merda. Eu estava na escola, acho, e quando cheguei em casa vi meu irmão no quintal. Ele estava de costas pra mim e chorava igual a uma criança (na verdade ele era uma criança, por volta de uns 12 anos). Nas costas dele, reluziam e cintilavam vermelhas as digitais do meu querido pai.
O coitado é tão azarado que, em algumas oportunidades acabou levando mesmo quando não era o autor da cagada. Uma vez, em um dos carnavais da primeira metade da década de 1990, a família foi toda pra Mococa, nossa linda cidade natal. Naquela época Mococa ainda tinha um dos mais belos e concorridos carnavais de rua do interior de São Paulo. A comissão julgadora era formada por alguns dos juízes que julgavam os desfiles do Rio e de São Paulo, sente só. Havia quatro agremiações, mas a maior rivalidade era entre as tradicionais Vira-Virô e Fundão. Neste carnaval específico de que estamos tratando, depois de um desfile disputadíssimo, a Vira-Virô se sagrou a campeã. O povo do Fundão ficou muito puto. As duas escolas realmente haviam estado pau-a-pau na avenida. Eu, meu irmão mais velho e mais uma turma de umas três mulheres e dois amigos tínhamos ido até o local da apuração na Parati 1.8 GLS vinho 1992 do meu paizinho. Ele adorava o carro. Por isso, só o fato de termos enfiado um bando dentro da Parati, que com tanto custo ele nos entregou, já seria motivo suficiente para um puta esporro. Mas não estávamos satisfeitos, ou melhor, eu não estava. Depois que saímos da apuração, demos uma volta na cidade e passamos em frente à sede do Fundão, os perdedores do carnaval. Havia uns 300 cornos na rua, tomando amargamente o chopp que havia sido comprado pra comemorar a vitória que não veio. Eis que ao passar pela multidão de torcedores do Fundão, num momento sublime de estupidez pura, resolvo subir na janela do carro e gritar bem alto o nome do rival e vencedor Vira-Virô!! Todo mundo começou a me xingar, e eu achei que ia acabar por alí. A sorte é que pouco depois cruzamos com uma viatura da PM e um dos gambés me mandou descer da janela. Não rodamos cinqüenta metros, paramos num cruzamento. De repente, escuto um barulho vindo bem do meu lado. Era a primeira das muitas bicas que seriam dadas na Parati 1.8 GLS vinho 1992 do meu paizinho. Os cornos dos torcedores do Fundão vieram atrás da gente e nem percebemos. Um deles tentou abrir a porta do passageiro, onde estava a criatura que provocou tudo aquilo, mas não conseguiu porque, ao sentar na janela, eu abaixei o pino da porta, que travou. Foi o que me livrou de tomar uma surra histórica. Meu irmão mais velho, depois de alguns segundos, se deu conta de que não era o carro sambando mas sim um punhado de bicas que estavam fazendo tudo sacudir daquele jeito, e resolveu acelerar. Deixamos a galera numa praça no centro da cidade e seguimos pra casa com o carro todo amassado. Contamos para o meu pai o que tinha acontecido e o que ele fez? Calma, isso vem depois. Ele colocou nós dois dentro da Parati e voltamos, agora os três machões, pra tirar satisfação com os trezentos torcedores do Fundão que haviam avariado a Parati pelo simples fato de um mané ter tirado um sarro com a cara deles. Chegamos no local, descemos os três do carro. Meu pai chegou logo num gordão e foi querendo saber os nomes daqueles que haviam chutado a Parati. O cara mandou meu pai ir tomar no cu, claro. Mas até que ele foi gente fina, e disse: "É melhor o senhor voltar pra essa merda desse carro e dar o fora daqui senão vai ser pior". Ele avisou, mas não deu tempo. Logo, uns trinta vieram pra cima da gente. E aí é que vem o detalhe engraçado da história: eles passavam todos por mim e seguiam direto para o coitado do meu irmão mais velho. Lembro que um cara voôu com os dois pés nas costas dele. Depois disso decidimos entrar no carro. Saímos a milhão e meu pai achou melhor a gente procurar a delegacia. Mas não deu em nada. E eu, autor da cagada, nem mesmo apanhei do meu pai.

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