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29.12.04

Ano Novo 

Estes dias que antecedem a virada de ano são sempre carregados de um clima que revela toda a natureza humana. O embaraço pelas promessas não cumpridas; a euforia de mais uma vez prometer cumpri-las; o alívio de uns por um ano ruim que acaba; a alegria de outros por mais um ano que chega; a frustração de uns pelos sonhos não conquistados; a esperança de outros pelos sonhos que, acreditam, se realizarão.
Esta semana de festa entre Natal e Ano Novo não fez muito sentido para mim nos últimos anos. Família em crise, sabe como é. Há três anos atrás, num dia 31 de dezembro, devorei um livro de 200 páginas pela simples falta do que fazer. Nem me dei conta que o um novo ano começava até que, faltando poucas páginas para concluir a leitura, fui tragado de volta para a realidade pelo estardalhaço dos fogos de artifício.
Mas nem sempre foi assim na minha família. Antes da mudança para Mogi das Cruzes, irmãos, primos, tios, avós, pais, filhos, cunhados, genros, noras costumavam se reunir na casa dos meus avós maternos.
Alguns pontos altos da festa se tornaram simplesmente folclóricos. Meu avô totalmente xarope de tanta cachaça; minha tia solange reclamando da bagunça que ela teria que limpar no dia seguinte; e eu e meus irmão chorando depois de mais um safanão do meu pai.
Nesta última categoria, a mais antiga que eu me recordo, e da qual eu fui vítima, aconteceu quando eu devia ter uns 9 ou 10 anos. Meu pai tinha um Passat, uma daquelas porcarias que hoje inundam o Iraque. Na minha casa todos se preparavam para o reveillon na casa da "vóparecida" (junção entre avó + Aparecida).
Como eu não tinha o que fazer, fui esperar dentro do carro do meu pai, ouvindo música. Me lembro que estava brincando com os pedais do carro, quando o meu pai chegou. Ele tentou ligar o carro, mas não conseguiu. Tentou de novo, de novo, e de novo. Nada. Nem poderia, porque de tanto pressionar o acelerador o carro afogou. E todo mundo chegou atrasado na casa da minha avó.
Lembro que subi a escada impulsionado pelas bicas "carinhosos" do meu pai, que me xingava pra caralho.
Em uma outra passagem de ano, isso quando eu já devia ter uns 14, 15 anos, o esporro foi dividido entre mim e meu irmão mais velho.
Naquele 31 de dezembro a gente foi comer umas menininhas. Até aí, tudo bem. O problema é que a gente levou a chave de casa, ao invés de deixar em um esconderijo que toda a família usava (não tinha esse negócio de cópia para todo mundo e, na época, também não tinha celular para nos localizar). E dentro da casa, mais especificamente dentro da geladeira, ficou trancada grande parte da ceia da família Amato.
Dever cumprido com as menininhas, seguimos direto para a casa da vovó para bater a larica. Fomos recebidos por um ser vermelho que não era um Papai Noel reload, mas sim o meu pai ruborecido de tanta raiva.
Mas o fato é que depois da mudança para Mogi, eu e os meu irmão viramos aqueles adolescentes típicos que renegam a família e começam a passar a virada mais com amigos e namoradas do que com parentes.
Hoje, mais crescidinho, sinto falta daquelas festas na casa da vóparecida. Neste ano convenci meus irmãos a passarmos juntos o Ano Novo com os meus pais. Não vai ser a mesma coisa, é claro, mas já é bem melhor. Pra completar a festa, só apanhando do meu pai de novo.



5.12.04

Sonho de uma noite de verão (na primavera)... 

Oito meses depois do corte, ontem eu retornei à redação do Diário de Mogi. Tinha sido convidado e aceitei voltar a escrever para o jornal. Conversava com o dono, que tentava me convencer a retirar minha queixa trabalhista contra o jornal (em três anos de labuta, alguns salários atrasados e não pagos, nenhum 13º salário ou férias remuneradas recebido, nenhum centavo do meu FGTS depositado, entre outros). O mais engraçado é que eu estava com o bloco de anotações na mão, pronto para cumprir mais uma pauta, me preparando para sair com aquele macróbio do Oscar, o motorista mais tinhoso da imprensa. Então, de súbito, acho que minha consciência se revoltou e decidiu colocar as coisas em ordem: O bloco de anotações saiu da minha mão em um arremesso incrivelmente violento e foi parar na cara do porco filho da puta do meu ex-patrão. Isto feito, me dirigi à saída da redação, quando na minha frente aparece o editor-chefe da bagaça. "O que está acontecendo? Posso ajudar?", o covarde me questionou. "Vai se foder, seu cuzão", foi a minha resposta. E então eu acordei...

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