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27.5.04

O japa louco e um jornalista a beira da fúria 

Não sei porque, me lembrei ontem de um tiozinho japonês, de uns cinqüenta anos, que encontrei uma vez numa das viagens diárias nos trens da CPTM. Ele chamou a minha atenção, e de todo o resto dos passageiros, por um motivo muito simples: era um daqueles filhos da puta que ficam pregando dentro dos vagões, acredito eu que tentando convencer algumas pessoas a se converterem a alguma religião, mas que no final das contas acaba é deixando todo mundo com vontade de jogá-lo pela janela (detalhe: com o trem em movimento).
Ao lembrar do tiozinho japa, pensei comigo: “puta que o pariu. Se encontro com aquele mala do caralho de novo, seria capaz de bater nele”. Não preciso dizer que eu odeio esse cuzões que ficam pregando nas composições. Os caras não querem saber se a pessoa está a fim de ouvir o que eles têm a dizer; não se importam se o camarada acordou às 4hs e naquela hora está tentando recuperar alguns preciosos minutos de sono nos bancos duros da CPTM; não estão nem aí se o passageiro, ao invés da pregação, estiver mais interessado em conversar com a namorada ou o colega ao lado, ou até mesmo em ler um livro. Sou da opinião que, se um cara como esse quer levar as mensagens de sua crença para outras pessoas, que o faça discretamente na frente da porra da sua igreja. Se quiser fazer isso no trem, no máximo entregue um folheto. Quem estiver interessado, vai ler e procurar mais informações a respeito. Do contrário, joga a merda do folheto fora e continua a ler o seu livro, escutar sua música, conversar com seu colega, namorar, sem ser importunado.
Mas a vida tem dessas coisas inusitadas, coincidências que a gente nunca entende. E no mesmo dia que eu roguei praga no japa, ele me apareceu novamente no mesmo trem que eu. O pior de tudo é que, apesar de ter uma cara de louco-xarope-varrido, o japa anda bem vestido. E assim como da oportunidade anterior, carregava uma pasta de trabalho, como se estivesse voltando do trabalho. Só não sei quem daria emprego para um desgraçado como aquele.
O cara começou a cantar suas pregações desafinadamente. E eu comecei a ficar irritado. Fechei o livro que estava lendo e passei a encarar o dito com um olhar ameaçador do tipo “cala essa porra de boca, senão vou te dar umas bicas”.
Como se não bastasse as minhas ameaças oculares não terem surtido efeito, aquele pentelho ainda veio pregar bem do meu lado. Fechei os olhos, contei até 30, mas não teve jeito. Mandei o cara ir tomar no cu, bem alto, no meio do trem.
Para a minha surpresa, o cara nem ligou. Fez um sinal de jóia com o dedo polegar em minha direção, e foi cantando até o vagão da frente. Não parou até que a viagem terminou, 30 minutos depois.

24.5.04

God Bless America!!!! 

Povinho terceiromundista, habitantes de pseudo-democracias subdesenvolvidas. Aprendam com a maior potência militar do planeta como funciona uma democracia de verdade:

"Depois da divulgação de imagens de soldados norte-americanos torturando iraquianos na prisão de Abu Ghraib, o secretário da Defesa dos Estados Unidos, Donald Rumsfeld, proibiu o uso de celulares equipados com câmeras digitais nas bases militares dos Estados Unidos no Iraque.
De acordo com o jornal 'The Business', o Departamento de Defesa acredita que algumas das fotos que ajudaram a manchar a reputação do Exército americano foram tiradas com celulares equipados com câmeras digitais.
'Câmeras digitais, filmadoras e celulares com câmeras foram proibidos em bases militares no Iraque', disse a fonte ao jornal. Segundo a fonte, 'é provável que os equipamentos sejam banidos de bases militares americanas'. (fonte: Folha online)

20.5.04

Tiradas filosóficas (ou falta de inspiração mesmo) 

Tem dias na vida de uma pessoa que seria melhor se o despertador não tivesse funcionado. Acredito que você também já tenha vivido um dia assim, em que as coisas começam a dar errado logo que você se levanta da cama. A sensação que se tem é que Deus resolveu brincar com você nesse dia, testar a sua paciência. A minha anda bem curta nos últimos meses. Tanto que, em algumas oportunidades, nem mesmo meus comprimidinhos de Somalium fazem efeito.

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Essa não tem sido uma semana legal. Muita coisa chata aconteceu. E o pior é que eu não tenho nem mesmo o consolo de um final de semana livre. Plantão é foda em qualquer situação. Mas se torna muito pior em determinadas condições.

!!!!!!!!!!!!

A noite de ontem, entretanto, foi uma grata e exceção. Fazia tempo que eu não dava tanta risada. Os descobridores da cerveja e da canabis deveriam ganhar uma estátua cada um.

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Fato: em pelo menos 90% dos casos nossos pais têm razão no que dizem. Depois de inúmeras cabeçadas, finalmente eu consegui concluir que a gente não deve esperar muito das pessoas. Mesmo que essa pessoa seja um dos seus melhores amigos.

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Depois do protesto do amigo Fausto, decidi mudar o blog. A partir de agora os textos não serão mais precedidos pela frase “É por isso que eu bebo...”. Para não descaracterizar totalmente o blog, porém, a frase estará agora no final de cada post. Grato pela compreensão de todos.
É por isso que eu bebo...

4.5.04

É por isso que eu bebo... 

Era tarde de sábado, primeiro de maio, por volta das 15 horas. Dentro de um gigantesco galpão de fábrica na zona sul de São Paulo transformado em templo religioso, cerca de cinco mil pessoas são coadjuvantes de umas das cenas mais tristes que eu já vi.
A maior parte dessa massa era formada por desempregados. Tinham ido até o local porque um certo padre prometeu que abençoaria suas carteiras de trabalho.
Para aliviar o clima pesado, nada mais eficaz do que a música. E como a tensão era muito grande, foram doze na seqüência. Todas canções de sucessos do filão religioso, cantadas com afinco e emoção pelos fiéis.
Finalizada a primeira meia hora, anunciam a leitura de um trecho da bíblia e o espetáculo parece que vai finalmente ganhar a seriedade que o tema – desemprego – merece. Mas só até revelarem o nome da pessoa que faria a leitura. Sobe ao púlpito Celso Russomano, o ex-repórter do “Aqui Agora” que decidiu assumir a sua porção política, se elegeu deputado e agora é mais um filho da puta que ajuda a decidir o – infeliz – destino do povo brasileiro.
Rolam mais músicas previamente lançadas em CDs (que você pode adquirir ali mesmo, canta feliz e ainda ajuda o “Santuário”), chega finalmente a hora da benção das carteiras de trabalho. As pessoas apontam o documento em direção ao céu. Rezam de olhos fechados, ajoelhadas, em voz alta, chorando. Alguns seguravam nas mãos quatro ou mais carteiras de trabalho. São de familiares que não puderam ir, que não acreditam que a benção possa lhes ajudar a conseguir emprego, ou simplesmente já desistiram de conseguir um.
Depois da benção e da comunhão, a banda volta a tocar e o povo novamente se esquece do motivo que o levou até o templo da zona sul de São Paulo. De repente, tudo vira festa. Pessoas que até há pouco choravam ajoelhadas no chão, começam a bater palmas e a acompanhar as coreografias feitas no palco, quer dizer, no altar.
Um coro de cinco mil vozes grita o nome de Jesus. “Primeiro o lado direito”. “Agora o lado esquerdo”. “Quero ver só os homens”. “Agora só as mulheres”, anima o padre.
O público não se contêm. Uma tiazinha de cara amarrada até há pouco, agora pula com as mãos levantadas, como uma adolescente que acompanha o seu primeiro show de rock. Inesperadamente, um “trenzinho” humano com dezenas de metros de comprimento começa a serpentear os corretores do templo. O bispo da diocese, com um balde repleto de água-benta em uma das mãos e uma brocha de pintor na outra, passa a chapiscar seus fiéis com o líqüido. O padre, grande astro da celebração, inebriado pela energia emanada da platéia, toma o balde das mãos do bispo, dispensa a brocha e banha seu séquito com a água benta.
Duas horas se passaram. A população começa a deixar o tempo em direção à triste e desesperadora realidade. A missa em louvor aos trabalhadores celebrada pelo padre Marcelo Rossi chega ao fim.

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